quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Como surgiu a maior corretora de valores mobiliários do Brasil

 Essa é a história de um jovem economista com visão e um bom potencial na mão. Segue a reportagem:

Guilherme Benchimol - Economista e Sócio fundador da XP Investimentos

 Fundador da XP Investimentos, maior corretora de varejo do Brasil, Guilherme Benchimol começou dando aula, em Porto Alegre, sobre o funcionamento do mercado de ações. Com R$ 3.000, abriu um clube de investimento que se tornou uma gestora de R$ 3 bilhões. Inspirada na americana Charles Schwab, a XP trouxe ao país o conceito de shopping de investimento, que compara e vende diferentes aplicações de butiques e bancos estrangeiros.
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Eu trabalhava numa corretora carioca chamada Investshop, que pretendia se transformar em um shopping de investimento vendendo desde ações até aplicações de diferentes bancos.

Meu trabalho era convencer outras corretoras a reduzir custos operando por meio da plataforma do Investshop.


Em 2001, após a bolha da internet, o setor em que trabalhava acabou sendo extinto e eu fui demitido.

Com 24 anos, isso tira o chão. De aprendiz de executivo virei desempregado. Já estava formado (fiz economia na UFRJ) e me questionei se era mesmo bom naquilo.

Havia uma corretora em Porto Alegre, a Diferencial, que queria operar com a Investshop. Eles me chamaram para continuar o projeto, em que deixariam de ser corretora para operar como agente autônomo (uma espécie de vendedor de aplicações associado a uma corretora).

Lá, conheci o Marcelo Maisonnave, que se tornou depois meu sócio na XP. Falei: Marcelo, por que não fazemos a mesma coisa? Montamos um escritório de autônomo!

No começo, a minha decisão era: nunca mais quero ter chefe. A do Marcelo era: vou me juntar com esse cara, que deve saber o que faz.

Eu devia ter uns R$ 10 mil guardados. Compramos uns computadores usados e começamos a XP.

A marca XP foi criada em meia hora. Eu falava muito que queria criar uma empresa XPTO... Assim, ficou XP.
No começo, a vida da XP foi muito dura. Por um ano, faturamos R$ 1.000 por mês. Vendi meu carro, o Marcelo morava com os pais.

HORA DA VIRADA

A virada ocorreu quando começamos a fazer palestras sobre o funcionamento do mercado de ações. As pessoas queriam entender o que fazia as ações caírem. Era gratuito, no playground do prédio, e tinha um "coffee break" com suco de laranja.

Os cursos estavam enchendo e percebemos que podíamos cobrar. Começamos pedindo R$ 300. Depois de uma semana, a Bolsa subiu 10%! Pensamos: é esse o negócio da XP. Dar aula!

Tínhamos um estagiário que se formou, mas não podíamos contratá-lo porque não tínhamos dinheiro. Ele foi trabalhar no JPMorgan, ganhando R$ 2.000. Falamos a ele: se pintar uma oportunidade igual, chama a gente. Não ganhávamos nem isso.

A ESTAGIÁRIA

Ficamos só com uma estagiária, que ia se formar em seis meses. Bateu um desespero. Sem ela, não teríamos como continuar operando.

Então, surgiu a ideia: vamos botá-la como sócia! Vendemos um sonho para ela se encantar com o projeto. Falamos: vamos ser a maior corretora do Brasil e você vai ter 10% da XP. Naquela época, 10% de nada era nada. E ela topou!

Um tempo depois, quando a XP estava crescendo, me casei com a estagiária e ficou tudo em família. Anos depois, nos separamos.

Cumprimos a promessa feita a ela: de uma escola no playground do prédio viramos a maior corretora do país.
Em 2003, começamos a terceirizar o trabalho e montamos umas 30 filiais. Crescemos tanto que precisávamos ter uma corretora. Compramos a America Invest e pagamos com 5% das ações da XP.

Fui morar no Rio. O Marcelo ficou em Porto Alegre tocando a área dos autônomos.

Nossa gestora começou em 2005 como um clube de investimento com R$ 3.000: R$ 1.000 meu, R$ 1.000 do Marcelo e R$ 1.000 do meu pai. O clube virou um fundo e hoje tem R$ 3 bilhões.

Depois veio a crise de 2008. Felizmente, ainda éramos pequenos. Mas foi o bastante para ver que não se pode depender só da corretagem de ações. É como ter uma empresa de guarda-chuva. Precisa chover todos os dias.

Na crise, você tem que ficar muito próximo dos clientes, que estão assustados. Normalmente, o profissional de investimento foge do cliente quando ele está perdendo dinheiro. É um erro.

Fomos a uma feira da corretora americana Charles Schwab. Ela funcionava como shopping de investimento. Focava no que o cliente precisava, enquanto o banco foca naquilo que quer vender.

Começamos a ver que o Brasil poderia seguir o mesmo caminho porque os clientes estão descontentes com os bancos. Resolvemos apostar na comparação de produtos, oferecendo fundos de diferentes casas.

Fizemos uma estrutura com todas as gestoras estrangeiras e butiques. Hoje, chegamos a captar R$ 500 milhões por mês. A meta é passar de R$ 5 bilhões neste ano. Estamos só começando.

Há 30 milhões de pessoas que investem nos bancos; 25 milhões na poupança. Tenho certeza de que todas elas poderiam investir melhor.


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